Grupo de Teatro "A Gaveta" apresenta a peça "Primeiro Amor"

 

Grupo de Teatro "A Gaveta"

Apresenta a Peça

"Primeiro Amor"

de Samuel Beckett

Dia 21 Dezembro 21.30H

Casa da Cultura de Loulé

SINOPSE
“Naquela altura eu não percebia as mulheres. Aliás agora também não. Nem os homens. Nem os animais. O que percebo melhor, e não é dizer muito, são as minhas dores."
Samuel Beckett, Primeiro Amor
Um homem conta a sua história. Uma história de amor? Sim, e não só. Entre o cemitério e um banco de jardim, entre altas urtigas e bostas de vaca, entre uma casa e outra casa ele relata como as coisas realmente se passaram entre ele e Lulu. Ou será Ana? “Mas que importância tem o modo como as coisas se passam a partir do momento em que se passam.” A história é sempre a mesma. Desde o princípio do verbo que tem sido assim. A ironia da vida. As adversidades do amor. A inadiável morte. Nunca houve outros assuntos. Nunca haverá outra história. Seja deste ou de outro homem. Os adereços mudam mas o assunto não. Sempre. A vida. O amor. A morte. O medo. O riso. O desespero. A perversidade. A repetição.

FICHA TÉCNICA

Texto: Samuel Beckett
Encenação: Sandro William Junqueira
Interpretação: Rui Cabrita
Cenografia: Paulo Quaresma
Desenho de Luz: Ricardo Mendonça
Figurinos: A Gaveta
Música: Luís Conceição
Sonoplastia: Rui Bentes
Aconselhamento: Prof. José Louro


ESTE ESPECTÁCULO
Este espectáculo nasce de uma provocação.
A novela “Primeiro Amor” escrita por Samuel Beckett. 
Samuel Beckett não é um autor meigo. A sua escrita intensa e provocadora, marcou o século XX, marca o século XXI, e continuará viva e actual por muitos mais. Beckett é sempre um desafio. Para quem o lê. Para quem o encena. É um autor radical. Nele não há temperaturas amenas. Godot, Dias Felizes, Malone, Molloy, Catástrofe, O inominável, Not I, Come and Go, Breath. São exemplos.
Quando penso em Beckett, penso numa cabeça. Na cabeça do Homem. Tudo está na cabeça. Fechado. Então é preciso abri-la. A cabeça começa a agir: a boca começa a falar. Um precipício de palavras. Sem travão. Sem filtros. E o corpo obedece à cabeça. Às palavras. Esta cabeça quase não precisa do corpo. Mas já que o tem de carregar, manda nele. A cabeça como início e fim. O corpo como extensão.
Como não possui moral, nem preconceitos, a cabeça diz aquilo. Tem a coragem de atirar cá para fora, sem filtros, sem cadeados, aquilo tudo: as coisas todas que nos passam pela cabeça! E são tantas as coisas que passam pela cabeça do Homem!
E nós o que fazemos com aquilo? Engolimos em seco o nó da garganta, coçamos o nariz, compomos o vestido, retorcemos o bigode, limpamos as gotas de suor da testa, remexemos o rabo no assento da cadeira, atiramos gargalhadas para afastar o incómodo.
Beckett causa incómodo, estranheza e riso. Pois quanto mais o lemos e ouvimos, mais próximo estamos da nossa incompreensão e da incompreensão dos outros. Afinal como nos vamos compreender, aceitar, perdoar, amar, se está tudo na cabeça? Fechado na cabeça. Na dele. Na minha. Na vossa. E ninguém tem a chave.
Por isso, talvez o melhor seja não criar barreiras intelectuais. Não tentar dissecar com o bisturi toda a mensagem. Deixem-se levar pela cabeça. Deixem a cabeça falar. Andar. Chorar. Rir. Defecar. Cantar. Acusar. Lamentar. Dançar. Comer. Agredir. Imaginar. Salvar. Amar, se for caso disso. Deixem a cabeça vaguear, livre.
Eis o meu pensamento.

Sandro William Junqueira